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A vida no mato

Ouço passarinhos cantando me avisando que já amanheceu.

Na janela lateral ao meu quarto de dormir vejo o sol pedindo licença ao mar de montanhas pra chegar, e é tão lindo ou mais que ver o mar da praia.

A vida no mato é pra quem gosta de andar descalço, sentir a terra fria em contato com o corpo, a brisa carregada de orvalho tocando o rosto, é sentir-se parte do que é natural.

Pra quem vive aqui não existe dia ruim que não termine em cachoeira, água fria pra limpar a alma e refrescar a cabeça, e quando se percebe o que era pra ser um mau dia foi um dos melhores dias da sua vida, e você soube aproveitar.

Porque aqui é assim, não tem trânsito que estresse, pela estrada sorrisos e passos leves, sem pressa a gente chega lá.

Aqui o vento as flores a poeira as águas, todas te tocam com carinho e sempre vão carregar um pouco de ti ao passarem por você, e tenho pra mim que eles trazem algo de alguém e por isso todos se cuidam e se dão tao bem, empatia o nome.

A vida no mato é pra quem não liga pra carro com fumaça ou sinais vermelhos pra forcar cortesia, aqui, educação vem de berço e dar licença e preferência seja a pé ou a cavalo, é um ato de bondade e consideração, não obrigação.

Ah! A vida no mato é pra pessoas especiais, a vida no mato essa sim é a verdadeira Minas Gerais.

Aqui tem prosa pra contar ´té tarde´ , tem breja , truco e não falta carne.

Aqui pra conversar sobre alguém não tem erro na hora de explicar,é só falar quem é de quem até que alguém consiga lembrar, como Anna de João Maria de Cida, ou Vitor de Aécio de Juanico de Cida, não tem erro uma hora sai um nome familiar e a prosa continua.

A vida no mato é andar pela estrada noite adentro iluminada apenas pela lua a estrelas e ter certeza de que elas são suficientes e nunca darão defeito qualquer ou terão sua luz “ cortada” porque vem lá de cima e o que vem lá de cima " cê sabe" nunca falha.

A vida no mato é mesmo uma maravilha, a gente aprende a agradecer todo dia pela vida que tem, pode até não ser fácil, mas tem suas belezas também.

É gente que ajuda gente sem esperar retribuição.

É deixar o almoço de domingo preparado sempre á espera de visitação, e olha que nunca falta nada se preciso bota mais água no feijão.

É esquentar o pé no fogo a lenha contando histórias de assombração, rodeado de gargalhas dos amigos de estrada que mais parecem irmãos.

E se quer saber, o meu lugarzinho“num” trocaria por nenhum outro na vida, se quero fruta, tenho fresquinha e quando acaba uma a outra vinga, não passo vontade não.

Aqui, lugar de gente de coração “bão” , lugar de deixar a vida leve e de aprender a respeitar o que a terra oferece.

Esse mar de montanhas, essas águas de gelar, a simpatia de cidade pequena, as frutas na época de pomar, os churrascos em família, o modão que não pode faltar.

È cantinho pra ficar pra sempre vendo os passarinhos acordar a gente e o sol das montanhas apontar.

Eu sou do mato com orgulho e quem quiser pode chegar, tem cantinho pra todo mundo, abraço quente para aconchegar, e a tarde tem cachoeira com breja gelada direto na água de la, tem risada, truco e viola, Me diz se não tem como gostar.



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